sexta-feira, 2 de julho de 2010

Manuelzão 46

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Três Rios... três realidades...
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(Excertos da matéria "Morte e Vida Severina" de Juliana Afonso e Mariana Garcia)
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Água Nova Para o Velhas
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A revitalização do Rio das Velhas apresenta uma história peculiar. “Normalmente, os grupos das universidades fazem a pesquisa científica para depois tentar chegar à sociedade. Na bacia do Rio das Velhas foi o inverso: a sociedade foi articulada e por último é que começaram as pesquisas científicas”, conta o professor de Ecologia do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG e parceiro do Projeto Manuelzão, Marcos Callisto. Segundo o biólogo Paulo Pompeu, o que está sendo feito no Rio das Velhas é inédito no Brasil. Hoje, sociedade civil, poder público e setor privado estão juntos na Meta 2010, que em 2004 passou a ser um projeto estruturador do governo de Minas Gerais. O Rio das Velhas é o maior afluente em extensão do rio São Francisco e terceiro rio mais poluído do Brasil, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Esatatística (IBGE). As dificuldades enfrentadas para revitalizá-lo são muitas. Quando ele passa pela RMBH, porém, elas se agravam. “A bacia do Rio das Velhas é a que apresenta o pior índice [em Minas] de qualidade das águas”, afirma Myriam. O cenário poderia ser pior; só
não é porque seu poder de depuração é bom e ainda existem afluentes em boas condições. A questão do saneamento é a que vem recebendo maior atenção. Nesse quesito, Myriam Mousinho acredita que ainda há muito a se fazer, como, por exemplo, a aceleração do Programa Caça-Esgoto da Copasa, que tem como objetivo eliminar os lançamentos de esgoto indevidos e
direcioná-los a estações de tratamento. No entanto, ainda há outros pontos que precisam ser melhor tratados para que o peixe volte ao rio, como o replantio de matas ciliares, o controle do assoreamento e o planejamento do uso do solo da bacia hidrográfica.
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Tietê: “Fétido, Preto e Viscoso”
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A degradação do rio Tietê é proporcional ao tamanho da principal cidade de sua bacia e uma das maiores metrópoles do mundo: São Paulo. Segundo informações da assessoria de comunicação da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), “no início do século XX, com o aumento da demanda de energia para movimentar o parque industrial que começava a surgir na cidade, as administrações públicas adotaram uma política de utilização do rio apenas como veículo transportador de esgoto e fonte de produção de energia”. Para o geógrafo e educador ambiental da Rede das Águas da Fundação SOS Mata Atlântica, Vinícius Madazio, a imagem que a população paulistana tem do rio é de algo “fétido, preto e viscoso”. No ano de 1992, a ONG SOS Mata Atlântica, a rádio Eldorado e o Jornal da Tarde deram início a uma mobilização que culminou em um abaixo-assinado pela recuperação do rio com 1,2 milhão de assinaturas. Surgiu então o Projeto Tietê, cujo objetivo é coletar e tratar o esgoto gerado na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP). É um trabalho de saneamento
ambiental. “Quando a gente fala em revitalização, falamos em muitos outros aspectos além de retirar o esgoto do rio. [Mas] eles não estão contemplados no rio Tietê porque a realidade de São Paulo é muito peculiar”, afirma Vinícius Madazio. Boa parte dessa peculiaridade se deve à intensa urbanização de sua bacia que, somente da RMSP, passa por 38 municípios e abriga cerca de 20 milhões de habitantes. Mais de 16 anos depois, os resultados ainda são incipientes. Em relatório divulgado em
junho pela Companhia de Tecnologia e Saneamento Ambiental de São Paulo, a qualidade das águas do rio Tietê piorou em alguns pontos. O motivo estaria na falha do sistema de tratamento de esgoto da Sabesp.
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A potência alemã
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A Alemanha é o expoente quando o assunto é revitalização. A partir da Idade Média, os rios alemães começaram a ser modificados para diversos fins como facilitar a navegação, gerar energia e ganhar terras para a agricultura. Essas obras se intensificaram com o aprimoramento de técnicas de engenharia fluvial no século XIX. Em 1960/70, as conseqüências ambientais entraram na discussão. Segundo o engenheiro da Agência Estadual de Meio Ambiente da Baviera (Alemanha), Walter Binder, em entrevista intermediada por Wilfried Teuber, os primeiros projetos de revitalização na Alemanha começaram na década de 1980. Binder conta que a iniciativa partiu principalmente de ONGs de proteção à natureza, associações de pescadores, e também da população ribeirinha. Eles exigiram das autoridades estaduais e municipais atividades para
renaturalizar os seus rios. “Os conceitos para a renaturalização de rios desenvolveram-se passo a passo; começou com tentativas tímidas de considerar as condições da natureza, de conservar biotas especiais e de incluir plantas nas obras de manutenção de rios”, diz o engenheiro Walter Binder. Diferentemente do Brasil, a despoluição das águas na Alemanha não fazia parte dos programas de revitalização; era uma pré-condição. Hoje, segundo ele, a renaturalização de rios na Alemanha é tratada como algo maior que a criação de parques lineares e tratamento da mata ciliar: “o objetivo é melhorar as funções ecológicas; precisa-se melhorar a estrutura do rio”. Reconhecem também que a conservação de rios em condições naturais é ainda mais importante que renaturalizar cursos d’água já fortemente modificados. Alternativa mais viável, inclusive economicamente.

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