quarta-feira, 7 de abril de 2010

Garimpo

.

Entendida a cidade como um estabelecimento de edificações e usos dentro de um espaço, mesmo que não precisamente delimitado, podemos situar as “topias” no plano material (edificações) e virtual (usos). Isotopia remete-se a semelhança, planificação ou conexão aparente entre a identidade de um ou mais espaços ou a forma de apropriação deles. Em oposto, heterotopia representa a expressão das diferenças, distâncias e particularidades existentes entre as citadas esferas da habitação (edificação e uso). Já utopia, como representante do objeto não existente no plano material, mas somente no conjunto das idéias humanas, conforma-se a partir do desejo de existência física deste espaço imaginário, ou mesmo das possibilidades oferecidas por ele a serem incorporadas no esquema já existente no presente.


Um olhar particular nos revela interpretações diversas sobre a cidade em destaque, Belo Horizonte. Contudo, historicamente remete-se a primeira cidade planejada do país e com relevante influência da “belle epóque” européia Belo Horizonte foi inaugurada em 1897, composta por uma arquitetura contemporânea e eclética.
Contrastando com a solidez natural das montanhas, a rigidez humana dos edifícios instalou-se definitivamente e em meados da década de 30 foi iniciado o processo de
verticalização da cidade. Fato este, juntamente com várias mudanças que sofria a cidade, desencadeou um acelerado crescimento urbano. E aos poucos Beagá foi adquirindo características dignas de uma metrópole, fonte de desenvolvimento e instalação da mão-de-obra da massa humana controlada por monopólios industriais.


Hoje, séc. XXI, Belo Horizonte ainda se mostra em formação e mutação, ou seja, o que antes era um espaço isotópico tem se tornado heterotópico e vice-versa, conforme a necessidade do desenvolvimento da cidade.
Ao saímos pelas ruas de Belo horizonte, notamos que os espaços se diferem, se sobrepõem ou mesmo, simplesmente, mudam de perspectiva conforme a interpretação ou a forma que é usado pelo observador.

As ruas e avenidas do centro cidade podem ser consideradas espaços isotópicos, onde a presença das linhas retas são comumente utilizadas e diferem-se somente pelas suas distâncias. Em contrapartida, a de se notar as praças e parques da cidade, locais que por suas particularidades são caracterizados como heterotópicos, pois se diferem tanto usualmente quanto visualmente dos outros espaços. Como exemplo a Praça Sete de Setembro, Praça da Liberdade, Parque Municipal, Parque da Gameleira dentre outros. Há locais que se confundem como os shoppings centers, que podem ser considerados como heterotópicos pela sua aversão a cidade, como também isotópicos pelas suas estruturas padronizadas.



Em outros espaços ocorre uma mudança momentânea, como a Av. Afonso Pena, que em um dia da semana, domingo, deixa de ser um espaço isotópico para dar lugar a Feira de Artesanato conhecida como Feira Hippie, tornando-a assim um espaço heterotópico. Já nos edifícios conhecidos como “Torres Gêmeas”, localizados no bairro Santa Tereza a mudança foi definitiva. Um par de prédios destinados a serem ocupados de forma lícita logo tornar-se-iam um espaço isotópico, contudo isso não ocorreu, ainda inacabada a obra foi ocupada por sem-tetos. Sua fachada em tijolos à vista e a forma como é utilizado contrasta com a região tornando esses monumentos um espaço heterotópico.


A acrescentar, é notável na cidade a presença de espaços neutros e não-lugares, aqueles que quase não reparamos, que nos fazemos indiferentes diante deles, como alguns cruzamentos, pontes e passagens, ou seja, caminhos transitórios. Complexo de viadutos da Lagoinha, cruzamentos no centro de Beagá dentre outros exemplos.



Portanto, como profissionais de arquitetura e urbanismo, é nosso papel nos qualificarmos de modo que não aprendamos somente a saciar as vaidades da sociedade, mas também as suas necessidades enquanto componentes de um centro urbano em constante crescimento.

Nenhum comentário:

Postar um comentário